domingo, 18 de dezembro de 2011
ROMÃ de Miguel Sanches neto
Gostaríamos que tivesse
nascido ao acaso,
de sementes excretadas
por pássaros
a romãzeira do quintal
comprada
na loja de produtos
agropecuários
mas tivemos que esperar
a frágil muda
adotar uma terra
inculta.
Da primeira florada
colhemos as cinco
frutinhas
saciando a fome.
Fome
do que um dia fomos
já que toda romã
vem da infância.
E foi com gula
que rasgamos a fruta
para repartir
seus rubis.
Na nova florada
duplicaram as romãs
que vergam
frágeis ramos.
A primeira delas
rachou logo
e foi invadida
por formigas.
De longe
apenas olhamos
as nove romãs
que ainda restam.
Esperaremos que todas
se desperdicem
ou que alimentem
os bichos?
Mesmo as romãs
viram rotina
neste jardim
rente à vida?
Acordemos cedo
amanhã
e disputemos
róseas romãs,
inventando
alegre vinho
em lábios
ilícitos,
para que insetos
e bichos
não nos tirem
os prêmios
e ao cuspir pelo jardim
sementes insanas
surja de nossas bocas
um pomar de romãs
Miguel Sanches Neto é autor dos romances Chove sobre minha infância, Um amor anarquista, e Chá das cinco com o vampiro, das coletâneas de contos Hóspede secreto e Então você quer ser escritor? e dos volumes de crônicas Herdando uma biblioteca e Impurezas amorosas. Colunista do jornal Gazeta do Povo, recebeu o Prêmio Cruz e Sousa (2002) e o Binacional das Artes e da Cultura Brasil-Argentina (2005). Mantém uma página no twitter: http://twitter.com/miguelsanchesnt.
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